Noite Fria



Nesta noite ainda não sonhei contigo. Diversas vezes julguei apenas fechar os olhos e, ao abri-los, mirava o relógio e descobria haver adormecido.


Apesar de não ter sonhado contigo é para tua pessoa que meu pensamento se volta quando acordo. Nesta noite que se estende à minha frente estás a me fazer imensa falta.


Ao mirar o teto acima de mim escuto o som do teu riso ecoar em minhas memórias. Baixinho, minha risada faz coro à tua em meio a esta noite escura.


Sozinha, sento em minha cama e ponho uma música baixinha a me embalar. Sozinha nesse quarto miro minhas mão. Pelas janelas abertos, desvio meu olhar para lua que está por detrás das árvores e tu faz-me falta.


É meia noite mais sessenta minutos. A iluminação que vez de fora me permite ver aquilo que preciso ver: tu não estás aqui.


Nesta noite que apenas está na metade fico a me perguntar onde andarás.


De nada adianta tentar não pensar quando pensar é tudo o que me resta. Olhar as estrelas me distrai, mas também me deixa entediada absurdamente rápido.


Os que ainda caminham pela rua em horário tão avançado são raros e monótonos. As árvores não oferecem melhor espetáculo.


O vento toca minha face e, em um gesto reflexivo, coloco meus cabelos para trás. A dor aguda da saudade retorna com a tua imagem a fazê-lo da mesma maneira.


Sentada à cabeceira dessa imensa cama meu olhar se fixa à parede defronte a mim. Ela oferece-me a mais fascinante distração, pois já não a vejo; encaro o palco em que se desenrola o teatro de minhas memórias.


Estavas tu com a cabeça sobre minhas pernas; estávamos ambos sob a sombra de uma árvore a rir. Como sinto falta da tua risada em esta noite fria.


Meus olhos ardem ao rever-nos. Rever-nos em um passado não tão distante e já inalcançável.


Apoio meu rosto em minha mão e suspiro. Será irremediavelmente longo o resto desta noite fria e solitária que ainda não terminou.