A Geração Fútil



Estávamos meu irmão, minha tia, minha irmã, minha avó e eu na sala assistindo ao filme “A Lenda do Tesouro Perdido” quando minha avó se vira para minha irmã e pergunta:
-B, o que você quer de Natal?
Minha irmã, no alto de seus dez anos de idade, responde:
-Uma Barbie!
Minha tia, fanática religiosa, fala para minha avó:
-Dê e a senhora estará alimentando essa geração da futilidade.
Eu, já cansada desses sermões que ela sempre traz a tona quando tem a oportunidade, disse:
-Isso tudo por causa de uma boneca?
-Não é só uma boneca, e sim toda uma idolatria que ela representa. – Minha tia responde.
-Grande, já conheço toda essa história. – Digo – Dá pra mudar os argumentos? Ela poderia tá fazendo coisa pior: se drogando,matando, roubando...
 -Ela vai crescer uma pessoa fútil. – minha tia rebate.
-Meio tarde para se preocupar com isso já que ela coleciona Barbies desde os cinco anos!
-Você também é fútil. A diferença é que é inteligente.
-A senhora tá chamando minha irmã de burra?
-Não coloque palavras na minha boca, porque eu não disse isso.
 -A gente tava falando da minha irmã e de repente me mete no meio, o que eu devo pensar? Que está fazendo comparações. – Já abusada dos argumentos repetidos, finalizo: - Olha, eu não vou discutir com quem é dono da verdade, porque é que nem falar com parede!


Não pensem que eu sou contra religião. Muito pelo contrario, acho muito bonito esse lance de fé e tals, mas, você ter sua fé é uma coisa; mas se achar perfeita e querer ver defeitos em todos que não tentam e/ou não querem ser como você é um verdadeiro saco.
E, sinto muito dizer, esse é o caso dela. Ela faz minha irmã de dez anos lavar o prato em que comeu, mas ela (minha tia) termina de comer e coloca o prato na pia pra quem quiser lavar! Como uma pessoa cobra algo se a própria pessoa não faz? Cinismo, para mim.
E como pode ela falar de gula, preguiça e inveja se só toma Leite Ninho com Nescau, de noite sai de moto para merendar na lanchonete que fica a menos de um quarteirão, comer três vezes sorvete sem importar com as outras pessoas que tem para tomar também, de seis em seis meses renova o guarda-roupas e todas as vezes que vê outra pessoa com algo novo pede emprestado?
Eu gostaria de vê-la dar sermões sobre como se deve buscar a santidade se não houvesse crescido no seio de uma família de classe média-alta em que a mãe só teve ela de mulher e nunca deixou de dar tudo o que ela desejava, pois não teve uma infância fácil e queria que a filha não tivesse a mesma experiência.
Sinto muito dizer que prefiro fazer parte dessa geração fútil que não tem medo de dizer o que pensa e ser feliz, curtindo minha música que desaprovam, pintando meus olhos e unhas de preto e ASSUMINDO O QUE SOU, do que essa velha guarda da qual ela diz fazer parte, pois, se todos os outros forem assim.
Desculpem-me os que não são, pois eu sei que vocês existem, e espero que entendam o que eu quis dizer. Não me refiro exatamente à geração dela, mas às pessoas que são como ela.
VIVA À MINHA GERAÇÃO FÚTIL!
VIVA A QUEM TEM CORAGEM DE ASSUMIR O QUE É!
VIVA A BARBIE!
VIVA A MÚSICA!
VIVA O DIREITO DE SER QUEM É!